quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

FIORI, José Luís. De volta à questão da riqueza de algumas nações (1999) - incompleto

Fichamento: FIORI, José Luís. De volta à questão da riqueza de algumas nações. In: FIORI, José Luís (org). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis: Vozes, 1999. Pp. 11-46.

“Na imprensa mundial, como no debate político em vários países centrais ou periféricos, volta-se a questionar a obsessão antiinflacionária dos Bancos Centrais e muitas lideranças mundiais já assumem explicitamente a defesa de políticas econômicas que priorizem o aumento da produção e do emprego. Por trás dessas novas posições políticas – que entram em choque direto com as ideias hegemônicas deste último quarto de século – o que está se assistindo não é apenas a retomada de um debate teórico, mas o reconhecimento da gravidade da crise que se alastrou a partir do Leste asiático e da impotência das políticas ortodoxas para enfrentar os efeitos da convulsão financeira que vem projetando sobre o próximo milênio um horizonte de incertezas com relação aos países centrais e de pessimismo com relação às perspectivas econômicas da periferia capitalista” (p. 11)
Desde 1999 analistas previam uma desaceleração do crescimento europeu e norte-americano, recessão prolongada no Leste Asiático , regressão na Rússia e período de estagnação na América Latina. Controle mais eficaz do livre movimento dos capitais seria uma solução, mas representaria uma redução do poder das grandes potências. As economias nacionais acompanharam a tendência dos países centrais de declínio das taxas de investimento, crescimento e emprego. Além disso as diferenças sociais se acentuaram entre os blocos e também dentro deles.
“Em 1965, a renda média per capta dos 20% mais pobres (U$ 74 contra U$ 2.281), enquanto em 1980 essa diferença havia pulado para 60 vezes (U$ 283 contra U$ 17.056). A renda per capta dos latino-americanos, por exemplo, que em 1979 correspondia a 36% da renda per capta dos países ricos, baixou para 25% em 1995. Até o fim da década de 70, três países na América Latina mantiveram o crescimento da sua renda per capta: Brasil, Colômbia e México. Mas, a partir de 1980, o crescimento destes países despencou e eles perderam as posições que haviam conquistado em termos de participação na renda mundial. No caso do brasil, por exemplo, as taxas médias de crescimento anuial do seu PIB per capta passaram de 6% na década de 1970 para 0,96%¨na década de 1980 e algo em torno 0,60% entre 1990 e 1998, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econõmica Amplicada do Ministério de Planejamento do governo brasileiro” (p. 13)
O processo de “financeirização” que ocorreu a partir de 1985 e as suas seguidas crises acentuaram a evolução deste quadro.

1. As profecias não cumpridas
“E foi, sobretudo, quando tentaram sustentar suas teses políticas nas suas análises econômicas que os teóricos da economia política clássica, em nome de um projeto científico, acabaram dando origem às grandes utopias modernas, sendo que a mais antiga delas – a utopia liberal – foi a que permaneceu viva por mais tempo, culminando na ideia da globalização.” (p. 15).
No final do século XIX, a partir de 1850, houve processo de concentração do poder político e da riqueza capitalista nas mãos de uma quantidade pequena, a maioria europeus; a Europa assumia o controle político colonial de ¼ do território mundial que constituíram “as redes comerciais e a base material do que chamado mais tarde de periferia econômica do sistema capitalista mundial” (p. 16).
“Nesse mesmo período, ainda quando tenha aumentado a desigualdade na distribuição da riqueza mundial, alguns poucos territórios privilegiados conseguiram superar o seu atraso com relação à Inglaterra, sendo progressivamente incorporados ao core do sistema capitalista global e à sua competição interna de tipo imperialista” (p. 16).
“Neste mesmo meio século, o resto do mundo incorporado à economia europeia, como colônias ou semicolônias, não conseguiu escapar à camisa-de-força de um modelo econômico baseado na especialização e exportação de alimentos e matérias-primas, e viveu um período de baixo crescimento econômico intercalado por crises cambiais crônicas. Em síntese, entre 1830 e 1914, a riqueza mundial cresceu, mas de forma extremamente desigual, ao mesmo tempo em que se expandia o poder político do núcleo europeu do sistema interestatal no qual foram incorporados os Estados Unidos e o Japão” (p. 16).
Entre 1870 e 1914 80% do comércio europeu segui entre os países mais ricos.
“Ao lado desta sua visão sobre os caminhos da Europa, List professava um profundo pessimismo ou fatalismo com relação ao “destino” dos povos tropicais e das nações pobres, que, segundo ele, deveriam seguir prisioneiras de suas especializações e obrigadas ao livre-cambismo inglês sem poder ambicionar uma convergência tecnológica com os Estados industrializados europeus” (pp. 21-22)
“(...) sobretudo na década de 1970, assistiu-se a uma diminuição global da distância entre a riqueza dos “países industrializados” e a dos “países em desenvolvimento” (Warren, 1980; Arrighi, 1995). Ainda quando se sabia que as estatísticas apontam nessa direção estejam fortemente inflienciadas pela crise generalizada dos páises mais ricos, e pelo crescimento excepcional do Leste Asiático e do brasil e México na américa Latina. O sonho contudo durou pouco e na década de 80 a queda foi muito mais rápida do que a ascensão. Em poucos anos foram varridos sucessivamente todos os “milagres” econômicos periféricos: primeiro caíram por terra, jpa nos anos 60, os poucos casos de sucesso africanos; depois, nas décadas de 70 e 80, ruíram sucessivamente os desenvolvimentismos latino-americanos; em seguida foi a vez dos “socialismos reais” e, agora, já no final da década de 90, são os “milagres econômicos” asiáticos que começam a andar para trás. De tal maneira que também o século XX vai chegando ao seu final deixando a forte uimpressão de que muito se andou para, na melhor das hipóteses, permanecer no mesmo lugar, do ponto de vista da distribuição do poder e da riqueza mundiais” (p. 23).
Diferença de riqueza entre os países mais e menos pobres: Em 1800 era de 1:1,8; e 1913 de 1:4 (Eric Hobsbawm); A relaçãoentre a renda média do país mais rico e o mais pobre do mundo, no começo do século XX era de 1:9 e no final de 60:1 (Nancy Birsdall).

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